Fortuna Crítica

FORTUNA CRÍTICA
Elsie Lessa (sobre a obra da X Bienal - 1969)

Os olhos da gente viram quadros demais, esculturas demais e estão meio cansados da perfeição ou da monotonia da maioria deles, um impacto já vai sendo coisa rara. Como o convite à infância, o passaporte livre para o conto-de-fadas da bola de gude gigante do japonês Toyota. Fiquei olhando, esqueci os outros, desliguei-me, namorei-a de vários ângulos, toquei-a com os dedos – era fria e sólida ao contato, como a outra esfera das calçadas da meninice. Era bom vê-la. Dançava leve no ar, os círculos em espiral – eram verdes e azuis – se fundiam em infinito, olhados de perto eram capazes de devolver os nossos próprios olhos, em puro êxtase. Não sei quanto tempo fiquei olhando para ela. Sei que foi difícil desprender-me dali.
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Jayme Maurício (Exposição Galeria Grupo B – RJ - 1972)

A grande peça do pátio, composta de três elementos, é o limiar de uma viagem ao país da luminosidade espelhada. O visitante é induzido a atravessar os dois vãos livres entre eles. E a travessia funciona realmente como tal – um reencontro consigo mesmo em visões deformadas. Quem o transpõe perde suas coordenadas – como se tivesse sido atuado por dentro. O espelho de Toyota continua a ser a superfície de metal polido. Há a maior continuidade, é claro, entre o Toyota de agora e o de antes. Acontece apenas que o artista, sem renegar seu sistema preciso e purista de criação, ligou o rigor formal à vertigem sensorial, à própria desorientação – um paradoxo de muita significação e riqueza.

Mário Schenberg

Há inegavelmente uma relação profunda entre essas pesquisas artísticas do século XX e a transformação da concepção de Universo físico associado à elaboração do Espaço-Tempo da Teoria da Relatividade. Na “escultura” de Toyota há uma Relatividade fundamental, pois a “obra” depende essencialmente do observador em movimento. Há também uma dependência do observador condicionada à sua entrada óptica na imagem produzida pela reflexão distorcida e fragmentada na superfície metálica. Assim a observação é modificada pelo próprio ato de observar. Isso tem uma relação natural com a filosofia da Mecânica Quântica, ainda mais revolucionária que a da Teoria da Relatividade. Há uma convergência misteriosa da Arte e da Ciência em cada período histórico. Na obra de Toyota há também uma retroação do objeto sobre si mesmo, produzida pela reflexão de uma parte por outra, que interage por sua vez com o deslocamento do observador, dando nas últimas obras uma oportunidade de obter efeitos colorísticos de grande beleza, e por vezes de uma profunda sugestão mágica. As “esculturas” de Toyota são na realidade instrumentos de uma proposta metafísica feita ao observador incauto, que tanto pode vivenciar o problema fundamental de Maya como se deixar embalar pelo encantamento das imagens e cores do mundo ilusório, perdendo a mensagem potencial mas vivenciando assim a ação de Maya como pura ilusão.

Oscar Niemeyer

O que me agrada na escultura de Toyota é a simplicidade natural e não premeditada. A ideia de utilizar o aço e a cor com seus reflexos imprevisíveis. São objetos que se adaptam a qualquer ambiente e, numa escala maior, à própria arquitetura. Parece que a pureza do aço o atrai e desse material talvez decorram as formas diferentes, construtivas ou geométricas, que imagina. Vejo-as, às vezes, numa escala maior, como grandes sinais metálicos cheios de brilho e de luz e as sinto tão belas que as gostaria de ver incorporadas à nossa arquitetura.

Ivo Zanini

As esculturas em chapas de alumínio e aço de Toyota ganharam nova dimensão na medida em que o artista conseguiu redimensionar formas e oferecer novos espaços às cores no interior das peças. Por intermédio do metal, os volumes continuavam a captar, espelhar, deformar o ambiente e o evanescente, parâmetro da quarta dimensão de Toyota.

Jacob Klintowitz

É possível dizer que a junção e a aparente contradição entre a dureza e o macio, a espontaneidade e a reflexão, o volume e a leveza, a geometria estável e o equilíbrio instável, são companheiros constantes de Yutaka, fazem parte do mundo que inventou e são a origem da empatia do público. A alta tecnologia é indissociável da sua delicada concepção. E temos a sensação de que este voo só existe embalado nestes materiais e em contrastes incomuns. Yutaka Toyota enriquece o nosso olhar neste jogo essencial feito de aço, alumínio, reflexos cromáticos de pigmentos ocultos, e movimentos eólicos.